Como a internet mudou o jornalismo?
A internet mudou a forma de trabalhar para muitas profissões. O jornalismo é, certamente, uma das mais afetadas pelas novas tecnologias. Publicações impressas disputam audiência com veículos digitais e produtores independentes. E todos entraram na dança do maior duopólio que há no mundo digital — Google e Facebook. O texto corrido dá lugar à repetição de palavras-chave do SEO. Isso quando não é substituído por imagens, gifs ou vídeos. Na era digital, o trabalho jornalístico se tornou muito mais que simplesmente informar o leitor: é preciso engajá-lo, torná-lo parte do processo de comunicação.
Tais mudanças afetaram a forma que jornalistas e assessores de imprensa pensam em pautas, se relacionam, fazem pesquisas, encontram personagens para ilustrar seus artigos e trocam informação durante o processo de produção de conteúdo. Confira abaixo as principais mudanças que o jornalismo sofreu com os avanços da tecnologia.
Mecanismos de busca x jornalismo
Os mecanismos de busca mudaram — e continuam mudando — a forma como produzimos conteúdo. Se aprendemos com os manuais de redação de grandes veículos de mídia que a notícia se baseia no formato pirâmide invertida, em que o lide deve apresentar todas as informações mais importantes do texto, em redação para a web é diferente. Isso porque o texto para internet se preocupa com outras questões além de agilidade de leitura. Escaneabilidade, palavras-chave, referências cruzadas e adequação do texto ao meio de publicação são algumas destas preocupações.
Ou seja, o conteúdo de web tem um formato mais livre quanto a estilo, mas com mais regras a serem seguidas. Um blog post não deve ter o mesmo formato que um post de Facebook. Este, por sua vez, também obedece a um padrão diferente de um post de Linkedin – que se for artigo de Pulse, por exemplo, tem uma configuração mais similar à do blog post que do artigo de revista.
O destaque de palavras-chave short e longtail em negrito, itálico ou sublinhado também é importante para os textos de web, principalmente para os blog posts. Isso porque esse destaque quebra a sequência de leitura e facilita a compreensão do tema. Escaneabilidade é uma forma de melhorar a experiência de compreensão do usuário.
Se antes os veículos mensuravam suas audiências pelo volume de tiragens, edições vendidas e televisores ligados, atualmente o jornalista (ou qualquer outro produtor de conteúdo online) deve saber pesquisar tendências e estruturar seu texto de forma a potencializar sua audiência. Isso significa levar em conta informações como pageviews, tempo médio de leitura, taxa de abandono (quantos usuários fecham a aba do seu texto antes de completarem a leitura), navegação interna e potencial viral, na hora de produzir a matéria. O texto de web é focado em performance. Cada produtor de conteúdo ou veículo de comunicação na internet pode definir quais são os indicadores-chave de performance (KPIs) de seu material.
Por exemplo: um influenciador se preocupa com o potencial viral de seu conteúdo (alcance e compartilhamentos), enquanto um jornalista de portal se preocupa com taxa de abandono – porque ela indica que sua pauta não ganhará destaque na home do portal. Ambos, porém, se preocupam com a busca: como o leitor irá encontrar este conteúdo no Google? Quais são as palavras-chave que melhorarão sua posição num ranking que apresenta em fração de segundos milhares de resultados possíveis? E a elaboração de um texto deve responder satisfatoriamente a estas questões para que este conteúdo conquiste a relevância desejada.
Troca de informação agilizada
Com a popularização dos smartphones e do acesso à internet, qualquer pessoa produz e dissemina conteúdo. Se, por um lado isto aumenta a concorrência por audiência, por outro, a forma de produzir informação muda. As assessorias de imprensa substituem, por exemplo, o follow up ativo para a venda de pautas e investem em relacionamentos mais próximos com jornalistas via aplicativos de trocas de mensagem. Uma entrevista pode ser conduzida e acompanhada de qualquer lugar com o uso apenas de um telefone celular – ou e-mails, mensagens de texto, áudios e afins.
Encontrar uma fonte ou personagem para ilustrar uma matéria não é mais o simples ato de perguntar na redação se alguém conhece alguém; existem grupos em redes sociais que se dedicam a trocar este tipo de informação. Qualquer pessoa com um celular na mão se torna um cinegrafista amador. O compartilhamento é em tempo real, o jornalismo é feito ao vivo na web – seja a cobertura de um evento ou a apuração de uma informação disseminada via redes sociais.
As mudanças tecnológicas continuarão alterando a forma como produzimos e consumimos conteúdo e cabe aos veículos de mídia e profissionais de comunicação se adaptarem a estas mudanças em ordem de se manter relevantes. Do contrário, o futuro destes produtores de conteúdo é incerto, para não dizer inexistente.
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